Tecnologicamente mais avançados, os modelos a combustão interna não têm data para se aposentar
Virou lugar-comum dizer que o futuro da mobilidade passa pela eletrificação, o que é a mais pura verdade. Mas isso não significa o fim dos motores a combustão interna.
Ao que tudo indica, os veículos elétricos terão papel importante nos próximos anos, mas daí a substituírem os motores a combustão existe uma longa distância, especialmente nos países emergentes.
Perguntamos a profissionais da indústria qual a expectativa de vida dos motores a combustão e todos foram unânimes em dizer que esses motores ainda serão usados por muito tempo. A maioria não se arriscou a apontar um número de anos.
“Quem sabe?, perguntou o diretor de pesquisa e desenvolvimento da fabricante de autopeças Schaeffler, Claudio Castro. “Acho que eles (motores elétricos e a combustão interna) seguem juntos por um longo período”, diz. “Por isso, continuamos a investir nos dois tipos de tecnologia.”
A concorrente Bosch também adotou essa estratégia de dividir-se entre as duas frentes.
Segundo o gerente de desenvolvimento de produto, Fábio Ferreira, a Bosch estudou cinco cenários possíveis para o comportamento do mercado e somente um deles considera a mudança radical, rápida e massificada, de uma tecnologia para outra.
Os outros cenários contemplam a evolução gradual do mercado mundial.
Para Marco Mammetti, gerente de motores da empresa de engenharia Idiada, as mudanças devem ser cadenciadas porque, por um lado, a eletrificação está em implementação (requer desenvolvimento de vias, formas de geração de energia e infraestrutura para recarga) e, por outro, a indústria automobilística está toda fundamentada na produção dos veículos de combustão interna.
“Isso implica milhares de empregos” (segundo a organização mundial de fabricantes – Oica, na sigla em inglês –, são mais de 8 milhões de postos diretos, no mundo).
O aumento da oferta de modelos elétricos e as restrições legais que os países estão impondo aos motores a explosão são vistos como algo relativo pelos especialistas, uma vez que ainda existem aplicações em que os elétricos não conseguem substituir os movidos a gasolina, etanol ou diesel.
É o caso dos veículos usados no transporte de cargas e de longas distâncias. “Isso porque as baterias ainda pesam muito e têm pouca autonomia”, explica Mauro Simões, gerente sênior de engenharia da MAN Latin America.
De acordo com os engenheiros, antes de o motor a combustão interna se aposentar, ele ainda vai evoluir bastante, ficando mais limpo e eficiente. Ao lado, reunimos 12 soluções apontadas pelos profissionais, que deverão estar nos motores nos próximos anos.
Escala evolutiva
Individualmente ou combinadas, soluções técnicas inovadoras vão tornar os motores a combustão interna ainda mais limpos e eficientes que os padrões atuais, prolongando assim sua aplicação nos diferentes tipos de veículos
1- Injeção de GNV ou água junto com a gasolina para reduzir emissões.
2- Desativação de cilindros a partir do corte da alimentação para diminuir consumo e emissões.
3- Uso massificado de plástico, o que ajuda a baixar o peso dos componentes, minimizando o esforço do motor.
4- Turbo variável permite ganhos de desempenho e eficiência nos diferentes regimes de funcionamento.
5- Taxa de compressão variável para aumentar a eficiência em todos os regimes.
6- Redução de atrito a partir do tratamento das peças e da diminuição do número de componentes.
7- Tratamento químico dos gases de escapamento (como já existe no diesel) para reduzir emissões.
8- Gestão de energia (com sistema de 48V e freios regenerativos) dispensando dispositivos como alternador e motor de partida (para redução de peso).
9- Híbridização tendo o motor elétrico como aliado na busca de eficiência.
10- Sistema elétrico robusto, responsável pelo acionamento dos diversos sistemas do carro, incluindo aqueles que hoje dependem do motor.
11- Ciclo variável alterando as durações dos tempos (admissão, compressão, explosão e escape) para diminuir consumo e emissões.
12- Gestão térmica com recursos como o aquecimento do combustível para encurtar a fase fria de funcionamento e, assim, reduzir emissões.
Por Quatro Rodas